Sal Amargo / Bitter Salt

15.00

Descrição do Produto

ISBN 978-989-53615-2-6

depósito legal: 547259/25

Título: Sal Amargo
Autor: Rita Ventura
Coautor: João Gata

Tipo: monografia
Editor: Safe Space Portugal / Mental
Data publicação: 052025

Nº de edição: 1 edição

Prefácio:

A Cartografia do silêncio

Há livros que se disfarçam de infantis, mas são apenas espelhos embaçados, incapazes de
reflectir a complexidade das perguntas que as crianças carregam nas mãos sujas de terra e
nas gargalhadas que desafiam o céu. Há adultos que se vestem de certidões de idade, mas
permanecem trancados em berços imaginários, temendo a aspereza do mundo lá fora. «Sal
Amargo» não é para eles. É para os que entendem: a infância não é uma fase, mas um
território eterno onde a mente brinca, inventa e se perde — e a vida adulta, quando
verdadeira, é a coragem de levar esse recreio para além dos muros, mesmo que a
sociedade insista em empilhar tijolos de medo e rotinas monocromáticas.

Rita Ventura e João Gata não escrevem; dançam. E não qualquer dança, mas um baile
mandado de palavras e imagens, onde se misturam fandangos desobedientes, malhões que
tropeçam em si mesmos, charambas que desafiam a gravidade, e viras que rodopiam até
desfazerem o chão. Como bem lembrou Fausto, é na cacofonia compassada desses ritmos
ancestrais — Laços, cana-verdes, pandeiradas — que se revela a verdadeira música da
existência. Cada página deste livro é um passo nessa coreografia desconcertante, onde os
autores, cada qual com sua melodia singular, entrelaçam poesia e prosa, silêncio e grito,
risco, cor, línguas e ausências.

Aqui, crescer não é abandonar a infância, mas mergulhar nela com os olhos abertos. As
páginas respiram dualidades: o nada e o tudo, o abraço que magoa, o ruído que habita
entre células, o sal que traça mapas do tempo no rosto. São versos que lembram: a casa
que julgamos nossa já foi de outros e será de outros ainda — e é nessa transitória que
reside a beleza do efémero. Os autores não temem a contradição; celebram-na. Afinal,
como o "fio invisível" que guia os loucos e os ousados, a vida é feita de rasgos subtis e
violentos, de vozes imperfeitas que insistem em cantar mesmo quando o pulmão arde.
«Sal Amargo» não oferece respostas; planta perguntas em forma de sementeira bravia. É
para os que respiram apesar da dor, os que vêem brilho no fio invisível, os que sabem: a
verdadeira maturidade não enterra a infância, mas a carrega consigo, como um segredo
salgado e doce. Um segredo que, tal como o tempo, marca o rosto e desenha rotas — não
para fugir, mas para dançar, com passos descompassados, no meio do caos.

João Vasco Almeida