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Festival Mental está de volta a Lisboa para a sua 8.ª edição

Entre os dias 10 e 25 de maio, o evento vai contar com sessões de cinema, debates, apresentações de livros, painéis de conversa e muitas outras atividades dentro e fora de portas. No dia 18, o Cinema São Jorge vai receber o debate moderado pelo Gerador sobre saúde mental e assédio moral e sexual no ensino superior.

Texto de Débora Cruz

Fotografia cortesia do Festival Mental

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Dar continuidade e reforçar a necessidade de falar sobre saúde e doença mental no espaço público é o principal objetivo da programação do MENTAL em 2024. “Depois de vários anos em que o assunto era vastamente discutido graças aos efeitos psicológicos nocivos de uma pandemia, o festival propõe-se a não deixar o discurso voltar à escuridão agora que o estado de alerta acabou”, escreve a organização, em comunicado. Nesse sentido, o evento vai refletir sobre temas como a “Saúde Mental na Comunicação Social”, na “Burocracia do nosso dia-a-dia” e também no mundo da música.

O Cinema São Jorge, o Espaço Atmosfera m e o Parque da Quinta das Conchas vão ser os palcos da programação deste ano. Entre os convidados e palestrantes desta edição, encontram-se nomes como o de Rita Sepúlveda, investigadora, Tânia Graça, psicóloga e sexóloga, Vítor Cotovio, psiquiatra e membro do Conselho Nacional de Saúde Mental, Filipe Pereira, diretor geral da CARMA CPLP, Ana Vaz, psicóloga da AfroPsis, e Florbela Godinho, jornalista da RTP, entre muitos outros.

O arranque do festival vai ser feito feito no Espaço Atmosfera m a 10 de maio com a apresentação do livro O Jogo do Veneno, de Ricardo Belo de Morais. A partir de 16 de maio e até dia 19, o MENTAL ocupa o Cinema São Jorge com sessões de M-Cinema: Mostra Internacional de Curtas e Médias-Metragens, M-Debates, M-Talks, Mental Jovem e Mental Sénior, entre outras atividades.

A série jornalística do Gerador, Abuso de Poder no Ensino Superior, faz parte da programação do dia 18 de maio e vai ser apresentada pelas jornalistas autoras no Cinema São Jorge, pelas 10 horas. A apresentação vai ser seguida de um debate sobre assédio e saúde mental com as palestrantes Filipa Santos, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) e Célia Figueira, coordenadora do Gabinete de Apoio Psicopedagógico ao Estudante da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, e secretária da direção da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior (RESAPES).

Esta 8.ª edição conta também com programação ao ar livre, com o Mental Natura, o workshop Emocino-NADA! Vamos explorar emoções?, que acontece no dia 25 de maio no Parque da Quinta das Conchas, no Lumiar.

O festival é uma produção da Safe Space Portugal, uma associação sem fins lucrativos, que nasceu em 2017 para combater a iliteracia sobre a saúde mental. Conta ainda com a co-produção da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental.

Para consultares toda a programação, podes clicar, aqui.

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Festival Mental regressa a Lisboa em Maio. Dating, ghosting e comunicação social são alguns dos temas da nova edição

por Comunidade Cultura e Arte,    10 Fevereiro, 2024

Festival Mental regressa a Lisboa em Maio. Dating, ghosting e comunicação social são alguns dos temas da nova edição

Na 8.ª edição do festival, o MENTAL retorna a Lisboa com uma programação reforçada e que decorre ao longo de 15 dias na cidade, com sessões de cinema, debates, painéis de conversa e muitas outras atividades dentro e fora de portas de 10 a 25 de maio.

MENTAL tem desde a sua criação em 2017 tem um claro objetivo, o de trazer para a discussão pública a saúde mental e combater a iliteracia que existe sobre o tema. Falar claro e claramente sobre este tema, sendo que plataforma escolhida para o abordar é a arte, em particular o cinema que volta a ter papel central para a programação de 2024 com as secções M-Cinema: Mostra Internacional de Curtas e Médias-Metragens e o M-Cinema Jovem. Os filmes que farão parte da programação desta edição serão em breve anunciados, mas até lá a Open Call direcionada a realizadores nacionais e internacionais continua aberta através da plataforma FilmFreeway.

Parte fulcral da programação continuará a ser o M-Debate e as M-Talks. Painéis de conversa sobre saúde e doença mental com profissionais da área e moderados por pessoas do mundo da comunicação. Os participantes deste ano serão em breve anunciados, mas os temas do debate e das talks desta edição já são conhecidos: o debate terá como tema “Dating e ghosting”; Jás as talks “Comunicação social e saúde mental”, “Burocracia e saúde mental” e “Música e saúde mental”.

Ainda nesta 8.ª edição a programação literária volta ao atmosfera m, da Montepio Associação Mutualista e há continuação do Mental Jovem e Mental Júnior (com programação a anunciar em breve) e do Mental Natura, com atividades ao ar livre que este ano acontecerão no Lumiar, Lisboa.

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Festival MENTAL em 8ª edição

Regressa a partir de hoje a Lisboa mas o “programa forte” só acontece na próxima semana e o cinema é um dos grandes destaques.

Liliana Teixeira Lopes

O Festival MENTAL está de regresso a Lisboa, para a sua 8ª edição, com sessões de cinema, debates, apresentações de livros, painéis de conversa e muitas outras atividades dentro e fora de portas, passando pelo Cinema São Jorge, Atmosfera m e Parque da Quinta das Conchas, até 25 de maio.

O MENTAL pretende, este ano, dar continuidade e reforçar a necessidade de falar sobre saúde e doença mental no espaço público. Depois de vários anos em que o assunto era vastamente discutido graças aos efeitos psicológicos nocivos de uma pandemia, o festival propõe-se a não deixar o discurso voltar à escuridão agora que o estado de alerta acabou. É por isso mesmo que neste ano o evento propõe refletir sobre temas como Saúde Mental na Comunicação Social, na Burocracia do nosso dia-a-dia e também no mundo da Música.

O Cinema é uma das secções principais do MENTAL, assim como as M-Talks, conversas que são seguidas de projeções de filmes.

A programação completa do Festival MENTAL pode e deve ser consultada no site oficial.

https://mental.pt/

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MENTAL: neste festival o estigma não entra

Ao fim de 24 anos envolvida em projetos empresariais e na área da cultura, Ana Pinto Coelho decidiu que chegara o momento de regressar à universidade e de desbravar a área das dependências químicas e comportamentais. Resultado? Acabou por se formar como conselheira dessa mesma área, na Universidade de Oxford, no Reino Unido. E foi neste mesmo ‘reino’, mais concretamente na Escócia, que conheceu o Scottish Mental Health Arts and Film Festival, em Edimburgo, que a inspirou a criar um evento cujo foco fosse a saúde mental.

E assim foi. O Mental – Festival da Saúde Mental nasceu em 2017 para combater a iliteracia sobre a saúde mental, e permitiu a Ana Pinto Coelho pôr ao serviço desta iniciativa não só a sua experiência profissional, como a imensa vontade de desconstruir estigmas. Sem medo(s).
Chegados a 2024 e à 8ª edição, o Festival MENTAL continua a pôr o dedo nas feridas e a debater curas, caminhos, emoções, dor e luz ao fundo do túnel. Entre 10 e 25 de maio, o Cinema São Jorge e o Lumiar serão palco dos debates, talks e reflexões, desta feita sobre os temas: Dating e Ghosting; Burocracia e saúde mental; Música e saúde mental; ou Comunicação social e saúde mental. É por aqui que começamos.

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Festival MENTAL

Cinema, Artes e Informação

ciências, cinema
10 maio a 25 maio 2024
vários locais
Festival MENTAL

Festival MENTAL – Cinema, Artes e Informação está de regresso a Lisboa tendo como temas centrais desta edição Dating e GhostingComunicação social e saúde mentalBurocracia e saúde mental e Música e saúde mental.

Do programa destaca-se o documentário Un Bolso Illeno de Carteras, de Leonardo Petrala, uma produção argentina que revela como a bailarina, coreógrafa e dramaturga Celia Argüello Rena trabalha artisticamente com o lixo acumulado pela sua mãe.

De salientar também duas curtas-metragens: Hippocampus, de Fér Perez, uma produção portuguesa, sobre o encontro imprevisto entre três mulheres que perderam os parceiros e Flor de Laranjeira, de Rúben Sevivas, que através dos olhos de um neto (o realizador), conta a história de uma mulher que, governada pela sua integridade e orgulho, opta por criar a sua filha sozinha no coração do campo português dos anos 50.

O programa inclui ainda as habituais M-Talks, concertos, workshops e atividades ao ar livre.

Programa completo aqui

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O Festival Mental está de volta e vai falar sobre o impacto da burocracia
As salas do Cinema São Jorge, em Lisboa, voltam a acolher o Festival Mental entre 10 e 25 de maio. Desta vez, para discutir a influência da burocracia, música e comunicação social na saúde mental.

https://www.publico.pt/2024/05/08/p3/noticia/festival-mental-volta-vai-falar-impacto-burocracia-2089526

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O Festival Mental está de volta e vai falar sobre o impacto da burocracia
Ao longo de 15 dias, o Festival Mental apresenta uma “programação reforçada” com sessões de cinema, debates, apresentações de livros, painéis de conversa e outras actividades dentro e fora de portas do Cinema São Jorge, em Lisboa. Na 8.ª edição, que vai decorrer de 10 a 25 de Maio, o tema principal é a burocracia.

“Temos detectado cada vez mais um problema grave na sociedade e que leva a problemas de saúde mental. Estamos a falar de uma vida inteira em que temos de dedicar obrigatoriamente tanto tempo naquilo a que chamamos ‘burocracia’ e que acaba por provocar transtornos pelo facto de se ter de ler e receber coisas em que ninguém percebe o que está lá escrito”, refere Ana Pinto, que faz parte da organização do festival da Safe Space Portugal, uma associação sem fins lucrativos.

O Festival Mental está de volta e vai falar sobre o impacto da burocracia
A música como terapia é o terceiro tema da programação principal que começa a 16 de Maio, com as sessões de M-Cinema, em que cada “M” aponta para a palavra “mental”, o ponto central do evento.

Como é habitual, M-Talks traz conversas assentes em três filmes temáticos que retratam os três temas do Festival. “Saúde Mental e Burocracia” é o tema que conduz a primeira sessão moderada por Henda Vieira-Lopes, psicólogo da AfroPsi. Listen aborda a história de uma família enredada na burocracia dos serviços britânicos por causa da guarda dos filhos.

A segunda sessão, a 18 de Maio, é voltada para a saúde mental no mundo da música. A conversa é moderada por Lia Pereira, jornalista da BLITZ/Expresso e Tár, de Todd Field é o filme temático que vai acompanhar a M-Talk. A última sessão, a 19 de Maio, traz uma reflexão sobre a saúde mental no mundo da comunicação social. O diálogo, que vai ser moderado por Florbela Godinho, jornalista da RTP, é o mote que precede O Repórter da Noite, de Dan Gilroy, o último filme temático que expõe os limites do jornalismo de televisão. Nas M-Talks, as conversas precedem os filmes pois, assim, é possível “descobrir muitas coisas que de outra forma não se descobriria se não assistisse à M-Talk”, sublinha Ana Pinto.

O primeiro dia do Mental arranca a 16 de Maio no Cinema São Jorge com uma sessão de curtas-metragens do Mental Jovem. O ciclo terá ainda outra sessão no segundo dia do evento, desta vez com uma peça do Teatro Terapêutico da Unidade W+ da Scml. Além de jovens, outros públicos serão abrangidos com o Mental Sénior, que este ano se estreia no Mental Natureza.

O Festival Mental está de volta e vai falar sobre o impacto da burocracia
O último dia da programação acontece no Parque da Quinta das Conchas, no Lumiar, e é recheado de actividades ao ar livre para todas as idades e com um workshop sobre literacia digital.

Texto editado por Renata Monteiro

https://www.publico.pt/2024/05/08/p3/noticia/festival-mental-volta-vai-falar-impacto-burocracia-2089526

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Mental: neste festival o estigma não entra

O Mental – Festival da Saúde Mental nasceu em 2017 para combater a iliteracia sobre a saúde mental, e permitiu a Ana Pinto Coelho pôr ao serviço desta iniciativa não só a sua experiência profissional, como a imensa vontade de desconstruir estigmas. Sem medo(s). Em entrevista ao NOVO, a promotora conta como tudo aconteceu e o que podemos esperar este ano.

Ao fim de 24 anos envolvida em projetos empresariais e na área da cultura, Ana Pinto Coelho decidiu que chegara o momento de regressar à universidade e de desbravar a área das dependências químicas e comportamentais. Resultado? Acabou por se formar como conselheira dessa mesma área, na Universidade de Oxford, no Reino Unido. E foi neste mesmo ‘reino’, mais concretamente na Escócia, que conheceu o Scottish Mental Health Arts and Film Festival, em Edimburgo, que a inspirou a criar um evento cujo foco fosse a saúde mental.

E assim foi. O Mental – Festival da Saúde Mental nasceu em 2017 para combater a iliteracia sobre a saúde mental, e permitiu a Ana Pinto Coelho pôr ao serviço desta iniciativa não só a sua experiência profissional, como a imensa vontade de desconstruir estigmas. Sem medo(s).

Chegados a 2024 e à 8ª edição, o Festival Mental continua a pôr o dedo nas feridas e a debater curas, caminhos, emoções, dor e luz ao fundo do túnel. Entre 10 e 25 de maio, o Cinema São Jorge e o Lumiar serão palco dos debates, talks e reflexões, desta feita sobre os temas: Dating e Ghosting; Burocracia e saúde mental; Música e saúde mental; ou Comunicação social e saúde mental. É por aqui que começamos.

A comunicação social tem tido um contributo construtivo na área da saúde mental?

A comunicação social de hoje é ambivalente em quase todas as áreas, seja política nacional, internacional, artes e espectáculos. Na área da saúde mental também. Se antes da pandemia o que comunicávamos era sempre no sentido “é preciso falar mais de saúde mental, o parente pobre da saúde em Portugal”, passámos para uma versão “catchy” ou seja, a ser um “tema da moda” nos OCS. A transição não foi por real interesse na matéria – caso contrário já o teriam feito até na colaboração de divulgação do Mental – Festival da Saúde Mental, pioneiro através da cultura, cinema, em suma, programação cultural multidisciplinar, visando o combate ao estigma e iliteracia, com promoção e prevenção em saúde Mental para o grande público e nos mais diversos targets. E, na verdade, já lá vão oito anos.

Claro que não estamos sozinhos nesta grande batalha, pois felizmente convivemos com outros colegas que têm um tipo de abordagem diferente, mas que também dão o seu melhor. Diria, portanto, que não é/foi construtivo. Foi porque tinha que ser, por ser aquela altura, por oportunismo mediático. E convidando ainda assim os mesmos de sempre, chamando a painéis com o que já havia, mostrando na maior parte alguma sobranceria sobre o que se está a fazer bem feito, inovador, há anos. Construtivo pode e deve ser feito. Noutros moldes, mais esclarecidos definitivamente, mais atentos a uma temática séria, cientificamente comprovada, orgulhando Portugal do que os pioneiros da sociedade civil têm feito há anos.

E em termos internacionais, há diferenças?

Internacionalmente, por exemplo e agora concretamente no nosso caso, o Mental – Festival da Saúde Mental, tem sido contactado por jornalistas estrangeiros muito interessados no nosso trabalho e na programação. Anualmente, recebemos centenas de filmes através da plataforma global Filmfreeway (esta edição recebeu curtas de 27 países). Somos contactados para parcerias com Festivais congéneres, e somos exemplo de boas práticas do que em Portugal se faz. Se o contributo, ainda que tardio, fosse construtivo, este cenário estaria totalmente revertido. Não será crítica, antes preocupação. Olhando a imprensa internacional consigo identificar, em relação à saúde mental, panoramas bem distintos. Mas o facto de estarmos aqui e agora a escrever, em altura de mais uma edição do Festival da Saúde Mental, revela que nem tudo está perdido.

Até que ponto os OCS veiculam informação errada, imprecisa?

Essa passou a ser a questão fulcral e tem uma resposta muito simples: infelizmente, é o que acontece. Enquanto curadores e produtores de um Festival da Saúde Mental há oito anos, e seguindo o raciocínio da pergunta anterior, o que temos dito desde o que aconteceu com a pandemia é: “falar mais não é falar melhor”. Pelo contrário, se um assunto desta natureza se torna “trendy” é porque algo está claramente errado. Mas também nos é mais fácil identificar a razão pela qual acontece e que passará seguramente quando o tema for outro. Há que referir também o péssimo papel que têm tido as redes sociais para esta desinformação, à qual os OCS não têm qualquer tipo de responsabilidade, mas que, para o público geral tantas vezes distraído, vale exatamente o mesmo, bastando para ser publicado por uma qualquer “figura pública” no Instagram ou demais redes.

As redes sociais pouco contribuem para uma melhor literacia nesta área…

Atualmente, esta é a nossa maior preocupação. Para além do nosso trabalho, passamos a ter que avisar meio mundo para ter cuidado com as fontes de onde recebe informação. Aconselhamos para que acedam sempre a quem oferece conteúdos científicos, oficiais. Mas claro que as pessoas preferem e acedem muito mais às redes das figuras públicas porque, enfim, é também o mundo em que vivemos. Quando acontece um Festival Mental, por exemplo, a cultura junta-se à saúde mental em modo de plataforma. Nada nem ninguém está ao acaso. O rigor faz parte, é nossa obrigação, escolher os melhores profissionais de todos os sectores para falarem sobre os temas escolhidos. E é claro que todo este imenso esforço esbarra na pouca divulgação nos OCS, mesmo percebendo os motivos acima explicados. Há que mudar de paradigma e isto partirá, em última instância, do próprio público já com literacia, que vai saber exigir e distinguir.

Outro dos temas em debate nesta edição é “burocracia e saúde mental”. Que peso tem nesta área?

A burocracia esmaga a sociedade actual em quase todas as suas vertentes. Esse esmagar é um factor imensamente importante no nosso dia-a-dia e que julgamos já ser um dado adquirido, o status quo, e que raramente é contestado. O acesso à saúde mental está em progresso, mas é ainda do foro do privado. Ao contrário de outras especialidades médicas (muitas com seguros), um problema ou episódio de saúde mental não se resolve numa consulta. Implica um trabalho mais ou menos demorado para o qual o serviço público não tem, ainda, solução.

A contestação geral é exatamente essa. Não há seguimento de acordo com o necessário, e portanto, a população é fragmentada: a que tem capacidade financeira para estar no privado, pagando as suas sessões regulares seja de psicoterapia, psiquiatria ou outra. A que não tem, como faz? Espera meses por uma consulta? E depois dessa consulta, como vai ser acompanhada? Outro exemplo: os nossos mais velhos que necessitam de Psicogeriatria. Mas deparam-se com uma imensidão de papelada e burocracia para conseguir ter acesso comparticipado nas poucas instituições que oferecem este serviço. É um processo interminável, desgastante, inumano. E tão moroso, que muitas famílias desistem. Mas o que iremos discutir é “burocracia e saúde mental” para que se fale a sério sobre o peso que a burocracia tem nas nossas vidas e sobre a qual se desabafa em conversa de café mas nunca se entende como se pode agravar e, tantas vezes, resultar num problema de saúde mental.

O sector da Cultura também sofre nessa matéria.

Sim, podemos inserir aqui a Indústria Cultural e quem ainda tem que passar por concursos públicos e financiamentos. Certamente precisará de um advogado até para ler o caderno de encargos, quanto mais tudo o resto.  É a terminologia, é o “rigor juris”, entre tantos outros. Tudo menos o que diz respeito ao trabalho que realmente todos fazem e para o qual estudaram e estão preparados. Certamente alguns requisitos formais devem ser assegurados, mas nunca na dimensão atual. É pura prepotência jurídica num país de juristas. Quem o não é tem a saúde mental afetada.

Não se entende como num país com as nossas características se continue a atribuir mais e mais emprego a juristas que, pelos vistos, nem fazem o seu trabalho de forma exemplar, pois continuam a obrigar-nos a fazer grande parte desse trabalho sem nada que o justifique. Esta explicação é dada por várias pessoas de vários sectores de atividade com as quais falámos, de Norte a Sul do país. Burocracia na saúde mental é um tema obrigatório no nosso país. Pode e deve existir um esforço bilateral e não unilateral como acontece.

Os debates promovidos pelo Mental têm tido bastante adesão do público?

Claramente a resposta é sim. Para confirmar, basta ir ao canal Youtube do Festival Mental, onde rigorosamente todos os acessos são livres a todas as M-Talks e Debates, e outros conteúdos. Todo o cuidado da seleção das temáticas é fulcral. Estar atentos ao que em cada ano possa ser mais importante, introduzindo sempre temas atuais – por exemplo Ecoansiedade quando ninguém falava, Inteligência Artificial, Ciberdependência na área da Saúde Digital. A repetição de um único tema em diferentes abordagens (Alzheimer e Demência) apenas porque em Portugal este número está em crescendo e porque também nos é pedido por muitos profissionais. A adesão existe quando os OCS ajudam, à parte do trabalho da nossa própria comunicação, em dar o seu melhor. Trabalhamos programação, conteúdos – cinema, literatura, música, teatro, dança, artes plásticas, etc. – com o maior rigor e profissionalismo, sempre com a Cultura como ponte para a promoção, divulgação e combate à iliteracia em saúde mental.

Se as artes plásticas já são usadas para a capacitação e reinserção psicossocial de pessoas com doenças mentais, o que falta para a música ganhar maior relevo neste campo?

As artes são comuns em toda a Europa e temos vindo a assistir “in loco” em vários países. As artes plásticas, sobretudo, são muito importantes. No Festival Mental, a música tem sido mais uma componente além das atrás referidas. Por exemplo, animação de rua, ir ao encontro à sociedade, em todo o lado do país, é a vontade que temos desde o início, mas nunca contamos com investimento realista e suficiente para que possamos levar à prática todas as ideias que vamos acumulando. Tanto para quem é compositor, músico ou quem assiste. A troca de emoções e sentimentos, sejam elas quais forem, são enormes quando se fala de música. Basta assistir a grandes concertos ou a música que se ouve em casa. Mas há ainda mais: como a música pode ajudar, ser terapêutica, tanto para o bem – o prazer, a criatividade – como para o mal – a pletora de músicos que morrem antes dos 30. Importa falar! Música é terapia. Sempre o foi e sempre o será. Venham sponsors para nos ajudar a oferecê-la a quem mais precisa.

À 8ª edição do Mental, que balanço fazem do festival?

Importa antes de mais que se perceba que o investimento em saúde mental – promoção, prevenção e combate à iliteracia, economicamente falando, resolve inúmeros custos de saúde em geral. Saúde Mental não precisa de análises, TAC, Raios X, etc., etc.. Sabemos também que a saúde mental nos ajuda a ter imensas somatizações, como para explicar de forma simples, como afeta os mais variados órgãos. A partir daqui aparecem as “doenças físicas” que podiam facilmente ser evitadas com considerável poupança ao Estado. Porque não acontece? Há respostas não públicas. Com oito anos, o Mental – Festival da Saúde Mental já faz parte do circuito dos festivais temáticos, pelo menos em Lisboa. Com uma equipa pequena, o que é difícil de fazer perceber quando nos apresentamos aos congéneres, vamos conseguindo um crescimento sustentado, esforçado, como os estudos demonstram. A marca é já importante e tem o seu valor, o que também facilita o primeiro contacto com mais entidades. Mas precisamos de mais, muito mais.

Como veem o futuro do festival? Está nos planos fazer itinerância pelo país, para fomentar um debate mais alargado?

Continuamos a bater às portas das cidades e vilas deste país com o Festival Mental Itinerante. Algumas acolheram-nos e perceberam a mais-valia que ofereceram às suas populações. Mas para este projeto ser sustentado de forma eficaz, deveríamos visitar anualmente as mesmas cidades e vilas para deixar de ser estranho e passar a ser normal, o que tem sido difícil porque, demasiadas vezes, são ações políticas cujos responsáveis vão mudando. E lá se recomeça da estaca zero. Demora tempo, sabemos bem. Por dois anos investimos no Porto, mas nunca existiu apoio camarário. Estivemos em Ponta Delgada, Funchal, Castelo de Vide e Vila Pouca de Aguiar, mais no interior, com casa cheia. Sempre com programações específicas atendendo aos locais e às populações. É necessária a repetição até que o público entenda que este é um Festival descontraído, cultural, passado nas salas comuns como teatros, cinemas, auditórios, bibliotecas, sem feudos de qualquer espécie.

O balanço é maior, internacionalmente, como exemplo de excelência do objetivo, mas com preocupações de marketing, imagem, comunicação e diversidade de propostas. Todas acreditadas cientificamente. São oito anos sem intervalos, sempre presencialmente, mesmo durante a pandemia, para levar este projeto que começou com simples uma visita ao festival congénere escocês a toda a população portuguesa. Pelo menos, é esse o nosso fito. Pela nossa própria saúde mental.

Consulte a programação completa em www.mental.pt